Rossi e o nono ovo.

Abandonei meu blog, eu sei. Não que muita gente tivesse sentido falta, mas abandonei assim mesmo. Uma boa dose de trabalho e outra maior ainda de falta de inspiração. Usei muito pouco meu computador na última viagem e estou agora me preparando psicologicamente para a próxima. Mas isso é conversa para outra hora. O assunto de hoje provavelmente não é do interesse de muita gente, haja vista não ser o esporte a que me referirei lá muito popular no Brasil. Estou falando de motovelocidade. MotoGP, para ser mais preciso. A categoria máxima do motociclismo mundial. A Fórmula 1 das motos, se preferir. E qual a razão de eu ter escolhido esse assunto? Para falar daquele que, se ainda não é, não está longe de ser o maior piloto do motociclismo mundial de todos os tempos: Valentino Rossi. The Doctor. Vale. Vou até me arriscar a dizer que nenhuma outra categoria de esporte motorizado tenha produzido um campeão como Rossi. Alguns podem até argumentar que o Senna foi um grande campeão. Sim. Não vou entrar nesse mérito. Rossi, no último domingo, no GP da Malásia, conquistou seu nono - isso mesmo, nono - campeonato mundial, sendo seu sétimo na categoria máxima. E ele tem apenas 31 anos de idade. Mais do que um piloto de talento nato e fantástico, Rossi tem carisma. E não faz a menor força para tê-lo. Rossi é sempre Rossi. Em dias ruins, em dias excelentes, sempre um sorriso no rosto, um aceno para os fãs. Sempre a comemoração junto aos admiradores, na pista, com alguma palhaçada. O show em cada capacete, a cada corrida. Rossi não deixa nem mesmo de fazer piada consigo mesmo, assumindo o erro numa corrida, pintando um burro (o burro do desenho Shrek) em seu capacete na prova seguinte. Mesmo quando o fisco italiano o perseguia alegando sonegação da ordem de 120 milhões de euros, Rossi nunca esqueceu seu público, nem de quem ele era.
Exímio acertador de motores e suspensões, piloto arrojado, de técnica limpa, Rossi faz tudo parecer muito fácil. Exceto para seus concorrentes, que parecem pedir a Deus que faça algo para pará-lo. Não foram raras as vezes que Rossi, após uma largada complicada, veio lá de trás, ultrapassando um por um, como se eles não existissem, e terminasse por ganhar a corrida. Mais de uma vez ele caiu, levantou-se, e terminou lá na frente. Ver Rossi pilotar é como assistir um maestro compor sua obra-prima. É isso. Cada corrida é uma obra-prima. Dá gosto vê-lo correr. Suas comemorações nada têm de presunçosas ou humilhantes para os derrotados. Pelo contrário. Rossi, quando comemora, mostra a todos o quanto gosta daquilo que faz. É fato que ele ganha bem por isso. Mas outros pilotos, na sua situação, já teriam se aposentado. Ele ainda tem pelo menos dois anos de contrato com a Yamaha.
Pois é, Yamaha. Quando anos atrás ele simplesmente deixou aquela que era considerada a melhor equipe, com a melhor moto do mundial, imbatível havia anos, a poderosa Honda Repsol, ninguém acreditou. Trocar aquilo tudo pelo azarão que ninguém conseguia fazer competitiva: a Yamaha M1. Loucura. Diziam que ele tinha jogado sua carreira pela janela. Mas Rossi, antes de mais nada, é um homem inteligente. Não dá ponto sem nó. Assim como suas desconcertantes ultrapassagens, sua estréia na Yamaha deixou o mundo boquiaberto. Não só ele ganhou a primeira prova que disputou com o azarão, como ganhou também o campeonato daquele ano. Rossi devolveu a alegria aos Yamahistas, órfãos desde o abandono de Wayne Rainey, que ficou paraplégico depois de um acidente. Nesses anos, deixou de ser campeão duas vezes. Mas voltou sempre. E levou o campeonato para casa.
Assistir a uma prova de MotoGP ao vivo, como tive oportunidade de fazer por três vezes, é como ir a um clássico num estádio de futebol. A única diferença é que há apenas uma torcida definida: a de Vale. Seus torcedores são tão fanáticos quanto os ferraristas. Quando Rossi faz uma ultrapassagem em qualquer ponto do circuito, não é preciso olhar para o telão para saber o que aconteceu. O urro da torcida (que só pode ser a torcida dele) faz-se ouvir por todo o autódromo, acima mesmo do rugir dos poderosos motores. Jovens de ambos os sexos, crianças, mulheres, velhos cheios de tatuagens e roupas de couro, todos exibem pelo menos algo que os identifique como um fã do incomparável Doutor. E ele não os decepciona. Rossi é admirado por seus fãs. Invejado...e admirado por seus adversários. Admirado até por seus ídolos. Um campeão como nenhum outro. Domingo passado, Rossi adicionou mais um ovo à sua cesta de campeonatos. O ovo de número 9. Outro como ele, tenho para mim, vai demorar muito ainda a aparecer.
Valeu, Vale.

Comentários

Kaká disse…
1º: que postão!
2º: sou uma das que sentiu falta, cansei de ler "Turistas e lojas convenientes" nas últimas semanas.
3º: credo! Ele só tem 31??? Me senti 1/2 zero à esquerda em realizações profissionais com a comparação de idade.
4º: ele é Rossi, então bebe Martini?
5º: velocidade é f...! Apaixona.
6º: não demore pra postar de novo.
7º: quarta-feira é dia de cerveja.
8º: saudadocê!
9º: nada.

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