Ser motociclista


Objeto de desejo. Meio de transporte. Aquele-negócio-que-fica-na-garagem-e-que às-vezes-me-lembro que existe. Três definições.
Outras três definições: motociclista de coração. Motociclista. Domingueiro.
O primeiro simplesmente gosta de moto, faz tudo o que pode com ela, chova ou faça sol, dá nome ao seu objeto de desejo, cuida, não empresta, não vende e não dá. O segundo quis deixar de depender do precário transporte público, ou simplesmente buscou uma alternativa econômica para seu transporte diário. Não é necessariamente um apaixonado. O terceiro comprou a moto porque podia. Ela é geralmente grande, potente, inversamente proporcional à sua habilidade. A moto é para mostrar, roda pouco e é vendida tão logo seu dono caia o primeiro tombo.
Eis a frase chave aqui: cair o primeiro tombo. O único ou o primeiro de uma série, cair para quem anda de moto é praticamente inevitável. Meu moto, aprendido com meu saudoso amigo Jean, sempre foi "caio para levantar e continuar a andar de moto e tentar não cair de novo". Mas se acontecer, subo na moto outra vez e sigo tentando não cair.
Na minha humilde opinião, os três tipos merecem algum respeito apenas pelo fato de terem moto. O primeiro tipo é o verdadeiro. Anda na chuva, sabe a importância de andar equipado e, se cair, levanta e segue em frente. Vender a moto para ele é algo impensável. Acho que me encaixo nessa definição. Frequentemente me perguntam se não tenho medo de andar de moto no enlouquecido e mal-educado trânsito de Brasília. Respondo sempre que sim, mas que também tenho medo de ser atropelado por um ônibus descontrolado enquanto espero na parada. tenho medo de motorista bêbado que não respeita sinal vermelho. Faço a minha parte para evitar ou, pelo menos, minimizar as consequências. Andar equipado é a primeira coisa com que se preocupar. Prestar muita, muita atenção no que acontece à sua volta é essencial. Saber reconhecer todos os sinais de algo está para acontecer é vital. Essas características fazem do motociclista de coração menos sujeito a acidentes graves, nem tanto para o motociclista comum e colocam o domingueiro na linha de frente do hospital. Andar pouco, esporadicamente, de moto não ajuda a desenvolver reflexos essenciais para uma pilotagem segura. Não raro, o domingueiro usa uma moto custom, sai de casa de bermuda e tênis e ainda faz paradas para aquele chopinho...receita para dar m****. Aí o sujeito culpa a moto, diz que é perigoso e a vende, além de sair por aí vilipendiando o veículo que só pedia para ser conduzido com segurança e atenção.
Moto é veículo perigoso? Até pode ser, afinal desafiamos constantemente a lei da gravidade, além de estarmos mais expostos no trânsito. Rebato dizendo que poucas coisas são mais prazerosas que um passeio de moto, seja em estrada a 120 km/h, seja na cidade a 50. Sozinho ou com garupa, andar de moto é um tesão. Mas um tesão que requer cuidados. Só quem pode criticar um motociclista é quem anda de moto. Quem só dirige automóvel não faz idéia do que é estar sobre duas rodas. Portanto da próxima vez que você sentir um impulso de xingar ou reclamar de um motociclista, pense duas vezes e tente se colocar no lugar dele.
Eu respeito motocicleta. E eu respeito a vida.

Comentários

Kaká disse…
Eu já caí e levantei! E levantei a moto também (digamos que a Twister não é leve, diga-se de passagem). Mas ainda não aprendi a pilotar. Ultimamente só guio tomóvers...

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