O gosto pela escrita e o talento que me falta

Gosto de escrever. Aprendi a gostar há muito tempo, mas há menos tempo do que aprendi a gostar de ler. Não é novidade que devemos incentivar as crianças a ler desde pequenas, seja lá o que for. Vale até catálogo de móveis. Um bom começo - tem gente que torce o nariz, acredite - é a leitura de gibis. Nós os líamos aos montes, de Mickey Mouse a Recruta Zero. Eu lia até alguns Pasquins do meu pai. Àquela tenra idade confesso que entendia patavina.
A transição das revistinhas com desenhos e figuras para os livros foi feita com literatura de bolso, mais especificamente livrinhos de bang-bang, com eram conhecidos - olhaí, gente torcendo o nariz de novo. Meu pai os comprava ou trocava com os amigos Tínhamos até autores preferidos, como Keith Luger (pseudônimo do escritor espanhol Miguel Oliveros Tovar), Silver Kane (pseudônimo do também espanhol Francisco González Ledesma) e Marcial Lafuente Estefanía (não é pseudônimo, mas obviamente espanhol). Literatura rasteira ou não, o fato é que aqueles livrinhos despertaram minha imaginação: ia lendo e "montando" os cenários na cabeça. As histórias eram emocionantes, bem escritas e até onde me lembro, bem traduzidas. Lia muito desses livros, enquanto meus colegas ainda trocavam gibis.
Dos bang-bangs para livros de mistérios foi um pulo. Agatha Christie foi o passo seguinte, com as intrigantes aventuras de Hercule Poirot. O contraponto a esta altura dava-se pela lista de leitura obrigatória da rede pública de ensino. Éramos obrigados a ler Machado de Assis e outros clássicos em plena 6ª série. Não é de se  admirar que tanta gente não gostasse de ler.
Ainda houve uma fase de livros de combate, de forças de elite, mercenários, etc. Trash, sim, mas na época eu os devorava e na verdade isso é o que importa. O gosto pela leitura estava lá. Em 1984 comecei a colecionar revistas. Inicialmente sobre motociclismo - até hoje -  mas depois também sobre música.
Meu gosto pela escrita - para a qual não tenho muito talento, infelizmente - veio lá pela 6ª série. Naquele ano, 1981, começamos a ter aulas de redação. Na 5ª série ainda tínhamos caligrafia. Pensando hoje sobre aquelas aulas vejo que não aprendíamos técnicas de redação nenhuma, apenas praticávamos sobre temas propostos pela professora (Edna, que eu adorava) e temas livres, alternadamente. E era nesses que eu viajava. Frequentemente inspirado por algum livro que estivesse lendo, deixava a imaginação correr solta e quase sempre enchia duas ou três páginas de caderno grande.
Anos depois, já no colegial, trocava correspondência com pessoas de várias partes do Brasil e até de Portugal. Um desses "penpals" ainda é minha amiga - né, Mari? Essas trocas de cartas me ajudaram muito quanto a organizar as idéias de forma mais clara no papel. Esse hábito passou anos abandonado. Os "penpals" desapareceram e as trocas de cartas com colegas da faculdade minguaram à medida em que cada um de nós caía no mundo cuidando da vida. Essa época coincidiu com o advento do e-mail. Tenho uma conta no Hotmail desde 1995. Com o e-mail vieram mensagens mais rápidas, mais sucintas, menos rebuscamento e um certo empobrecimento. Ficou pior com os "chats" e mensagens instantâneas.
Blogar foi uma tentativa mais recente de polir um pouco meus dotes de escriba e alongar os músculos do cérebro. Não ligo muito para quantas pessoas leem meus blogs ou os acompanham. Gosto quando comentam, mas escrevo mais por mim e para mim.

Tenho necessidade de escrever, apesar de muitas vezes não ter inspiração e a coisa sai (quando sai) meio sem graça. Daí meu hábito de ter blocos, cadernos e afins espalhados, para sempre ter onde e como escrever (paralelamente desenvolvi uma certa fixação por canetas). Este texto, por exemplo, foi escrito com uma Bic num caderno Moleskine, um dos vários que tenho pela casa.
E tudo isso começou lá atrás, com gibis e livrinhos de bang-bang.

Comentários

Kaká disse…
A redação publicitária me permitiu explorar uma das coisas que mais gosto de fazer: Escrever.

PS: você também se irrita com os erros de grafia? Eu peguei mania de revisar até bula de remédio... Faz parte do meu "mitiê"!

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